sexta-feira, 31 de agosto de 2007

WT no Crowne Plaza 27/agosto/2007 ( Por Fernando Franco )


Filho de Avaré, interior de São Paulo, na estrada desde os 17 anos e legítimo representante da verdadeira música regional brasileira, Wilsinho, como é carinhosamente conhecido, fez o lançamento oficial do seu primeiro CD, intitulado “Almanaque Rural”, no dia 27 de agosto de 2007, em noite com casa cheia no palco intimista do Teatro Crowne Hall Plaza, na Sala Yara Amaral, em São Paulo. Com o acompanhamento da banda Firme na Paçoca, formada por Renato Delírio (bateria e percussão), Ricardo Cabelo (violão aço 6 cordas), Vinícius bini (contrabaixo elétrico) e Caio Andrade (slide e cavaquinho), Wilsinho fez um show marcado pelo sentimento, belas canções e a presença de amigos, familiares e da imprensa. Homenageado pela Estância Turística de Avaré, Wilsinho abre no dia 20 de setembro a Feira Avareense de Música Popular – Fampop, que tem Zélia Duncan, Wandi Doratiotto, Zeca Baleiro, Guilherme Arantes e Os Trovadores Urbanos como principais atrações. Confira como pensa esse talento avareense das 10 cordas na entrevista exclusiva ao jornalista Fernando Franco, de Avaré.

Fernando Franco – Como foi a gestação do “Almanaque Rural” ?
Wilsinho Teixeira – O disco teve praticamente três anos de produção. Iniciei as gravações em janeiro 2004 e a finalização aconteceu em janeiro de 2007. Pra mim foi uma experiência incrível, pois esse é o primeiro disco que produzo. Fiz os arranjos, convidei os músicos, enfim, toda a concepção do trabalho é “culpa” minha (risos).
FF – É um disco conceitual ?
WT – Com certeza. Existe um eixo norteador. O título do CD veio a partir das músicas que eu já tinha. Então, tudo está interligado, ou seja, a música, o título do trabalho e a concepção.
FF – Por que o nome “Almanaque Rural” ?
WT – Trabalho de uma maneira muito intuitiva com as letras e os arranjos. Muitas vezes, não sei o porque escrevo certas palavras, frases e mesmo trechos de músicas. Há tempos fiz uma música que contém muitas imagens e recortes de imagens. Essa música chamava-se “Mistura fina”, que acabou sendo rebatizada de “Almanaque Rural”. No entanto, ela acabou não entrando no CD, mas deu nome ao disco e deve estar no próximo trabalho.
FF – Fale um pouco dos parceiros neste primeiro CD.
WT – É muito difícil encontrarmos pessoas para fazer parcerias musicais. É uma química que rola ou não. No meu caso, como sei muito bem o caminho que quero trilhar, tenho que ter muita liberdade com o compositor ou letrista. Então, os poucos parceiros que tenho, são parceiros que aceitam esse meu controle sobre a música. Por exemplo, a música “Trem de verão”, parceria com Adilson Casado, é o resultado de um longo bate-bola até chegarmos na música final. Participam do CD, como parceiros, Salatiel Silva, Reinaldo Luz, Juca Novaes, Adilson Casado e meu pai, o jornalista Wilson Ogunhê.
FF – Como músicos convidados há grandes nomes no CD “Almanaque Rural”. Como isso foi possível?
WT – Tive a alegria e a honra de ter como músicos convidados no meu primeiro CD Tuco Marcondes, Sizão Machado, Toninho Ferragutti, Priscila Brigante, Mauricio Lourenço, Teco Cardoso, Robson Fernandes, Vlad Carvalho, Oswaldinho, Vinicius Binny e Douglas Alonso. São excelentes músicos e amigos de verdade. Eles estão na estrada há muito tempo e são experientes.
FF – Antes de iniciar carreira solo, com quem você tocava ?
WT – Fiquei, durante seis anos, tocando piano e violão com a banda “Os Binnys”, na noite de São Paulo, quando conheci e pude conviver com o baixista Vinicius Bini e muitos outros músicos da noite paulistana.
FF – Percebe-se na sua música nítidas influências do violeiro Almir Sater, Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Pena Branca & Xavantinho, Tião Carreiro & Pardinho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Lenine, Zeca Baleiro, e outros nomes da música brasileira, além de representantes do violo folk americano como Simon and Garfunkel, James Taylor, Cat Stevens, etc. Fale de suas influências.
WT – Acho que todos esses músicos misturam a música caipira com música urbana. No meu caso, acredito que eu pego o que eles já fizeram e misturo isso com as minhas influências. Ou seja, é como pegar a síntese que eles já fizeram entre a música rural e urbana e fundir novamente com outras referências, minhas principais influências, livros, discos e experiências. Meu trabalho tem agradado tanto quem gosta de música popular brasileira (MPB) quanto quem gosta de música caipira.
FF – Como a viola caipira apareceu na sua vida ?
WT – Quando conheci a jovem dupla caipira Otávio Augusto & Gabriel fiquei fascinado pelo som da viola, pois um deles é violeiro. Tive, então, o primeiro contato com o som da viola caipira e disse para mim mesmo: caramba... Bem, isso foi lá pelos idos de 2001...
FF – Foi uma espécie de volta as origens ?
WT – Sim. Acredito que essa aproximação teve a ver com a busca das minhas raízes. Quando vim para São Paulo, comecei a olhar mais para minha cidade natal, minha terra, minhas origens mesmo. Daí, isso me fez decidir pela viola. Lembro que o Alceu Valença falou que ele só se decidiu pela música que faz hoje depois de morar um período na França, ou seja, a distância, a saudade e a necessidade de cantar as coisas de sua terra e passar uma verdade nisso, foi que forçou ele ser o que é hoje.
FF – Eu ouvi uma música nova sua através do músico Eduardinho Teixeira (Avaré/SP) e de sua mãe Zezé e gostei da intenção. Como está o trabalho para o segundo CD?
WT – Essa música a qual você se refere é “Rei da alegria”, parceria minha e de Evandro Campeon, compositor pernambucano. É uma música que eu gosto muito e tem influência direta do xote, com pitada de folk e blues. Por outro lado, o xote tem um toque do reggae. Então, o segundo disco já está a caminho. Tenho pelo menos seis novas canções prontas, mas ainda não tenho o título do trabalho. Tenho que pensar na concepção, pois não é apenas juntar as músicas...
FF – As músicas “Saga” e “Terra do verde, da água e do sol”, do seu primeiro CD, chamam muito a atenção pela força e lirismo da poesia. Parece que você continua em plena busca pelo som definitivo. É uma espécie de metapoesia musical? Fale sobre isso.
WT – Tanto “Saga” e “Terra do verde...” tem uma coisa de quem está em trânsito, procurando mesmo alguma coisa. Minha música é, antes de mais nada, uma pergunta. Faço música porque eu não sei. Faço música buscando um caminho, ou seja, qual o verdadeiro sentido de se fazer música.